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Carga de Incêndio

21 de janeiro de 2022

A carga de incêndio de uma edificação ou área risco é de suma importância para determinar às medidas de segurança necessárias a edificação. Uma vez que este conceito seja bem definido, juntamente com as informações de área total construída e altura da edificação, o mesmo servirá como parâmetro para o perfeito dimensionamento dos sistemas de combate a incêndio do empreendimento.

Quais os tipos de carga de incêndio que existem?

A norma traz em sua redação, a carga de incêndio, em linhas gerais, onde a mesma pode ser definida como sendo a soma das energias caloríficas possíveis de serem liberadas pela combustão completa de todos os materiais combustíveis em determinado espaço, inclusive os revestimentos das paredes, divisórias, pisos e tetos. Enquanto que a carga de incêndio específica pode ser entendida como o valor da carga de incêndio dividido pela área de piso do espaço considerado, expresso em MJ/m² (megajoule por metro quadrado).

Quais os métodos para dimensionar a carga de incêndio de uma edificação ou área de risco?

Atualmente, é recomendado o uso de dois métodos, o método de cálculo probabilístico e o método de cálculo determinístico.

No método de cálculo probabilístico, o cálculo de carga de incêndio é baseado em resultados estatísticos correlacionados à atividade exercida na edificação em estudo; conforme pode ser visto na Tabela 1 a seguir:

Tabela 1 – Carga de incêndio específica por ocupação e por CNAE

Fonte: adaptado da NT 04 CBMES.

Como pode ser observado (vide Tabela 1) o método de cálculo probabilístico é muito usado para determinar a carga de incêndio da maioria das edificações urbanas, pois as atividades econômicas ali desenvolvidas são de conhecimento universal e consequentemente, pode-se usar um método estatístico para determinação do risco de incêndio, ressalvando os casos particulares.

Contudo para as edificações destinadas a armazenamento de materiais diversos (Grupo “J”), aplica-se a Tabela 1A ou, quando necessário, utiliza-se a metodologia prevista na Tabela 2 (método determinístico).

Tabela 1A – Cargas de incêndio relativas à altura de armazenamento (depósito)

Fonte: adaptado da NT 04 CBMES.

Conforme pode ser observado, na Tabela 1A, a carga de incêndio será maior à medida que altura e empilhamento do estoque fique mais levado.

No caso de depósitos, (Grupo “J”) o risco pode variar entre baixo, médio e alto. A carga de incêndio será determinada em função do tipo de material e da altura de armazenamento deste, sendo J-1, J-2, J-3 e J-4, este último refere-se à carga de incêndio alta (superior a 1.200 MJ/m²).

Segundo Rio (2021)

Para uma edificação migrar de classificação J2 para J4 por exemplo, basta modificar a altura do empilhamento dos materiais. Tal ocorrência é muito comum em empresas de depósitos e transportadoras, devido à demanda do mercado, que podem aumentar significativamente o empilhamento de mercadorias.

Rio (2021) afirma ainda que

Estocagens com alturas superiores a 3,70 metros podem gerar impacto significativo no dimensionamento das medidas de segurança contra incêndios. Pode ser exigido a construção de limites de compartimentação de áreas e instalação de sistema de chuveiros automáticos (sprinklers).

Com relação aos conceitos de sistema de chuveiros automáticos (sprinklers) e compartimentação horizontal/vertical, faremos um estudo em separado devido a complexidade destes conceitos.

Para entender melhor a classificação dos riscos relacionados ao grupo “J” e como esta classificação evolui em função das características da edificação, a Tabela 1B apresenta alguns exemplos.

Tabela 1B – Classificação das edificações e áreas de risco quanto à ocupação

Fonte: adaptado do Decreto nº 2423-R.

À medida que, no método de cálculo determinístico, o cálculo de carga de incêndio, fundamenta-se no prévio conhecimento da quantidade e qualidade dos materiais existentes na edificação em estudo, apurado conforme Tabela 2.

Tabela 2 – Planilha para cálculo da carga de incêndio

Fonte: adaptado da NT 04 CBMES.

Observações:

(1) Constante da Tabela 3;

(2) Massa total de cada material x potencial calorífico específico;

(3) Somatória de todos os potenciais caloríficos considerados;

(4) Total do potencial calorífico da área considerada para o cálculo/área considerada para o cálculo = (qfi).

Legenda:

  • qfi – valor da carga de incêndio específica, em megajoule por metro quadrado de área de piso considerada para o cálculo;
  • Mi – massa total de cada componente “i” do material combustível, em quilograma. Esse valor não poderá ser excedido durante a vida útil da edificação, exceto quando houver alteração de ocupação, ocasião em que “Mi ” deverá ser reavaliado;
  • Hi – potencial calorífico específico de cada componente do material combustível, em megajoule por quilograma, conforme Tabela 3;
  • Af – área do piso considerada para o cálculo, em m².

Tabela 3 – Valores de referência – potencial calorífico específico (Hi)

Fonte: adaptado da NT 04 CBMES.

Assim sendo, para efeito de classificação do risco de incêndio das edificações e áreas de risco, faz-se necessário a utilização das densidades de carga de incêndio conforme Tabela 4.

Tabela 4 – Classificação quanto ao risco de incêndio.

RiscoCarga de incêndio específica (MJ/m²)
Baixoqfi ≤ 300 MJ/m²
Médio300 < qfi ≤ 1200 MJ/m²
Altoqfi >1200 MJ/m²
Fonte: adaptado da NT 04 CBMES.

Considerações finais

Os passos citados anteriormente servem de ponto de partida para classificar a edificação ou área de risco quanto à carga de incêndio e dimensionar todas as medidas de segurança necessárias para o empreendimento, em conformidade com as Normas Técnicas de cada Unidade da Federação.

Autor: Cleidiomar Chaves

Engenheiro Civil, Pós-graduado em Engenharia de Segurança do Trabalho; Pós-graduado em Engenharia de Segurança Contra Incêndio e Pânico; Graduado em Administração, Técnico em Edificações, Técnico em Eletrotécnica, Sócio Proprietário e responsável técnico da CDC Projetos, Engenharia e Consultoria Ltda., Especialista na elaboração de Projeto de Prevenção e Combate a Incêndio (PPCI), Especialista em Vistorias para aquisição de Alvará de Licença do Corpo de Bombeiro (ALCB), atua a mais de 13 anos na área de prevenção e combate a incêndio no Estado do ES.

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REFERÊNCIAS

Norma Técnica Nº 04/2020 – Carga de incêndio nas edificações e áreas de risco do CBMES;

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14432: Exigências de resistência ao fogo de elementos construtivos de edificações – Procedimento. Rio de Janeiro, 2000.

RIO, Sérgio. O que é Carga de Incêndio? Entenda como essa questão pode impactar no estoque e aprenda a fazer o cálculo. Disponível em: <https://ofos.com.br/carga-de-incendio/>. Acesso em: 18 jan. 2022.

ESPÍRITO SANTO (Estado). Decreto nº 2423-R, de 15 de dezembro de 2009. (Alterado pelo Decreto nº 3823-R, de 29 de junho de 2015). (Alterado pelo Decreto nº 4062-R, de 01 de fevereiro de 2017). Disponível em: <https://cb.es.gov.br/Media/CBMES/PDF’s/CAT/Decreto%202423-R%20de%2015%20de%20dezembro.pdf>. Acesso em: 18 jan. 2022.

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